As diferenças entre "Aprovisionamento" e "Compras"
Pretendo com este artigo, desmistificar as diferenças que - ainda - existem entre "Procurement (Aprovisionamento)" e "Compras".
Estive recentemente inserido num processo de seleção, realizado por uma empresa especializada em recrutamento, quando a dado momento percebi que, o/a "jovem especialista", não dominava o tema, tendo equivocado-se sobre a respetiva abrangência das funções.
É perante situações semelhantes que, tenho de dar razão a Sidnev Garcia Osti, quando refere que; "Muitos profissionais competentes, perdem oportunidades de ouro, por terem sido entrevistados por ignorantes ao assunto em questão". Mas, sobre este tema irei brevemente abordar-lo em outro artigo.
Quanto ao tema em epígrafe, corroboro na íntegra com as seguintes palavras do Helio Ernesto Setti, os termos "Compras" e "Procurement" estão a ser utilizados, incorretamente, alternadamente, mas não deliberadamente.
Existe uma diferença significativa entre ambos os termos, “Compras” apenas reflete o ato da aquisição, enquanto o "Procurement" engloba mais elementos da cadeia de suprimentos e dispõe de várias ferramentas para suporte dos processos.
Assim, "Procurement" é a função primordial que descreve as atividades e os processos de aquisição de produtos e serviços de acordo com critérios pré-estabelecidos. Importante e distinto de "Compras", "Procurement" envolve as atividades executadas conforme fundamentos e diretivas pré-estabelecidas, as quais se iniciam em estratégia para depois se transformarem em tática, tais como: pesquisa de mercado (inteligência), avaliação de fornecedores (auditorias e KPIs), negociação de contratos (cost models), entre outras, inclusive as atividades de "Compras" necessárias para encomendar e receber bens.
Pode-se mesmo considerar que, "Compras" é a versão pobre do "Procurement". O termo "Compras" refere-se ao processo de encomenda e recepção de produtos ou matéria prima, abrangendo a elaboração do pedido, a aprovação, a criação de um registo de ordem de compra e o de recepção.
Examinando a fundo o tema “Procurement”, ele vai além do domínio dos elementos do Supply Chain tradicional, o qual implica uma arquitetura sequencial, enquanto na realidade, o processo de “Procurement” envolve a sincronização dos stakeholders internos com os stakeholders externos.
Este paralelo convergente é muito importante para que os profissionais de compras envolvidos, possam expandir a sua área de pensamentos e práticas, inclusive assimilando filosofias relativas a outras áreas, por exemplo, as das finanças/contabilidade. A importância deste ponto de vista, pode ser demonstrada quando lembramos que um grande percentual dos savings declarados por "Procurement" ainda não são aceites pela área financeira, e são interpretados por meros cost avoidances.
" Compras" é na realidade um subconjunto dentro do conjunto de “ Procurement”.
Reflita na seguinte equação: Compras + Estratégia = Strategic Sourcing = Essência do Procurement, ou seja, Procurement – Estratégia = Compras.
Porém, migrar para um modelo de “Procurement” não é mandatório, pois o modo como uma organização encara o papel do seu departamento de compras, difere de uma empresa para outra, baseado na sua história e cultura empreendedora. Isso indica que, algumas empresas possam limitar o “Procurement” entre um papel funcional, estritamente definido em vez de ser um contribuinte estratégico. Aqui também poderá existir alguma insensatez, caso o paradigma do conservadorismo não possa ser alterado em todos os níveis e stakeholders. Este equívoco, pode resultar em consequências realmente catastróficas.
Em conclusão, o processo "Compras" é apenas a função final - automática - do "Procurement" que, leva em consideração as necessidades fundamentais e específicas de uma empresa no seu plano estratégico e os esforços deste departamento, estão alinhados com os objetivos da empresa que vai além da compra de bens ou serviços.